por Marlete Cardoso
“E quando a alma fala, ah! então já não é a alma que fala”.
Na última edição da Feira do Livro de Joinville, tive um encontro estranho com dois adolescentes. Um deles tinha um livro na mão e veio em minha direção pedindo, quase ordenando, que eu cuspisse no livro. Oi? Como assim? Explicaram então que era um livro para
ser destruído de muitas formas e me propuseram outras maneiras de fazê-lo. E vieram pedir a mim? Eu, que durante muito tempo considerei todos os livros sagrados? Nem o título convincente me fez mudar de ideia e os meninos foram em busca de um “vandalizador” menos chato que eu, deixando-me com aquela sensação de “o que está acontecendo com as pessoas”?
Como sementes em terra fofa, certas situações ficam guardadas, só esperando o clima certo. Então, em janeiro deste ano, num amanhecer, enquanto tentava meditar, lembrei-me das crianças em seus pensamentos repetidos e destrutivos que, muitas vezes bloqueiam as possibilidades de uma vida saudável. E me ocorreu: se eu pudesse fazer as pessoas pensarem e escreverem suas melhores qualidades; se houvesse uma forma de reunir pais e filhos, numa atividade leve que levasse em conta que nosso mundo é criado por nossos pensamentos. Afinal, a ciência está há tanto tempo falando sobre isso. A física quântica até afirma que nossos pensamentos podem alterar eventos físicos e que somos resultado de tudo o que pensamos e sentimos. Por que não?
E assim, bem devagar, como a sementinha vai se desdobrando em raízes e folhas sensíveis, foi nascendo “Eu sou uma pessoa”, tímido e singelo, mas cheio de promessas. Os escritores, acostumados a desenvolver textos robustos, poderão dizer que reunir meia dúzia de palavras faz-se em minutos, e têm razão. Mas em mim as palavras buscam inteireza para brotar. Por isso a demora e o cuidado com cada traço.
Eu sou uma pessoa é um livreto muito simples e diferente, que precisa de parceria para completar-se. A ideia é que o leitor/escritor continue a lista de qualidades, reunindo o máximo de adjetivos positivos sobre si mesmo, esperando-se que isso o faça refletir, impulsionando alguma mudança. Parto do princípio de que o pensamento é tudo, pois ele é o começo de todas as coisas que construímos. No livro também faltam ilustrações e cores, que ficarão à cargo do paciente e criativo leitor/escritor. Esse livro é tipo um patinho feio que precisa de mais tempo para embelezar-se.
Se eu pudesse elencar um objetivo para “Eu sou uma pessoa”, seria o de elevar a qualidade dos nossos pensamentos e fazer de todos nós pessoas melhores. Disponibilizá-lo gratuitamente é a minha maneira de contribuir com pais, educadores e nosso frágil mundo.
Comments